Os primeiros ocupantes da ilha de Marajó viviam da coleta de moluscos e outros recursos aquáticos, o que acabou gerando montes de conchas chamados de "sambaquis".
São conhecidos três sambaquis, ainda não
estudados: um no município de Curralinho, ao sul da ilha e outros dois no
município de Cachoeira do Arari.
Por comparação a sítios arqueológicos como esses
estudados na costa leste do Pará, estima-se que os primeiros habitantes tenham
chegado na ilha há 5 mil anos.
Depois disso, grupos horticultores ceramistas
chegaram do norte, há 3.500 anos.
Em 1948 e 1949 os arqueólogos americanos Betty
Meggers e Clifford Evans
estudaram a cerâmica fabricada por esses grupos e
definiram as fases arqueológicas Ananatuba, Mangueiras, Formiga e Acauã.
Esses povos viviam em aldeias pequenas de algumas
dezenas de pessoas, produziam ainda trançados e tecidos, e iniciaram o manejo
de plantas como o abacaxi, algodão e arroz, encontrados atualmente em sua forma
selvagem em algumas regiões da ilha.
Meggers e Evans também estudaram ocupações mais
recentes, como as fases Marajoara (anos 400 a 1350)
e Aruã (anos 1300 a 1650).
É importante enfatizar que, com exceção da fase
Aruã, que é o correspondente arqueológico dos grupos Arawak que invadiram a
ilha a partir do Amapá por volta do século 14, o nome "fase" usado
pelos arqueólogos designa apenas a tecnologia da cerâmica e não um grupo étnico
ou linguístico.
Já a cultura Marajoara surgiu por volta de 400
depois de Cristo, e em 300 anos espalhou-se pela área de campos da metade
nordeste da ilha.
Esses povos destacaram-se pela construção de
plataformas de terra de até 12 metros de altura e 2 hectares em área, e
manejavam recursos aquáticos, construindo também barragens e escavando lagos
artificiais.
Quando Meggers e Evens pesquisaram alguns desses
sítios compostos por "tesos" verificaram que, em cada grupo, havia um
ou dois tesos que continham urnas funerárias e uma cerâmica ricamente decorada,
enquanto que a maioria só apresentava cerâmica utilitária.
Sugeriram então que os tesos cumpririam diferentes
funções, sendo alguns para cemitério e outros para habitação. As diferenças no
tratamento dado aos mortos, o trabalho envolvido na construção dos tesos e o
requinte do trabalho na cerâmica indicava que aquela era uma sociedade
hierárquica, com um sistema, político e religioso complexo. No entanto, Meggers
e Evans não acreditavam que na Amazônia poderiam desenvolver-se sociedades
assim, e por isso sugeriram que os marajoaras teriam imigrado de áreas mais
desenvolvidas a oeste da cordilheira dos Andes. Na década de 1980, outra
arqueóloga americana, Anna Roosevelt,
pesquisando os tesos Guajará, no alto rio Anajás,
e o sítio Teso dos Bichos, no município de Cachoeira do Arari, demonstrou que
os tesos-cemitério também possuíam estruturas domesticas; portanto seriam tesos
cerimoniais da elite, que ali morava e enterrava seus familiares.
Roosevelt também descobriu que os marajoaras
alimentavam-se principalmente de produtos provenientes de caça, pesca e coleta,
especialmente tartarugas, peixes (utilizando a técnica de envenenamento de
lagos), frutos e castanhas.
Assim como Roosevelt, a arqueóloga brasileira
Denise Schaan,
trabalhando na área desde 1998, acredita em uma
origem local dos povos marajoaras, que se desenvolveram aprendendo a manejar a
ecologia da ilha. Ao longo de 10 km às margens do igarapé dos Camutins, cerca
de duas mil pessoas aldeadas em 34 tesos construíram lagos e barragens,
explorando de maneira intensiva os recursos aquáticos; além disso fabricavam
tecidos, trançados, belos objetos em osso, madeira e cerâmica, e realizavam
trocas com povos distantes, de onde obtinham machados e adornos feitos de
pedras inexistentes na ilha. Os mortos ilustres eram tratados com grande pompa,
sepultados após um ritual de descarnificação, limpeza e pintura vermelha dos
ossos, dispostos em grandes urnas funerárias decoradas com emblemas de sua
linhagem e espíritos protetores. As urnas, cobertas por uma tampa e guarnecidas
com oferendas e objetos pessoais eram mantidas semi-enterradas dentro de um
templo. As mulheres da elite usavam tangas de cerâmica, com motivos decorativos
que informavam sobre seu status social. Cacicados como o dos Camutins
multiplicaram-se pelos campos alagados, competindo por prestígio e poder. Estas
sociedades entraram em colapso a partir do século 14, provavelmente tanto por
causa da invasão Aruã quanto por mudanças climáticas que teriam afetado sua
economia. Depois disso, a população remanescente retomou a vida em pequenas
aldeias, sendo assim encontradas pelos europeus no século 17.
Edição:
Marajó na Mídia
Texto:
Marcio Couto
Fontes:
Livro (Uma biografia de Peter Paul Hilbert)
Luciana Dias
Muito bacana me ajudou muito!! =-)
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