terça-feira, 29 de maio de 2012

CAPITANIA DISTRIBUI COBERTURA DE MOTOR


Medida
faz parte de campanha que tenta 
reduzir número de escalpelados.

A Capitania dos Portos e a Secretaria Estadual de Saúde (Sespa) iniciaram, ontem, mais uma etapa da campanha para aumentar o número de embarcações com eixos de motor protegidos e diminuir os escalpelamentos. Neste ano, já ocorreram seis acidentes em todo o Estado do Pará. A nova etapa da campanha se estenderá até o
próximo dia 1º. Das 5 às 18 horas, os militares da Capitania dos Portos circularão pelos rios próximos a Belém para identificar as embarcações que ainda navegam com os eixos descobertos.


Os responsáveis pelos barcos estão sendo orientados a seguir até a feira do Açaí, no Ver-o-Peso, onde uma equipe da Capitania dos Portos fará a fixação das caixas metálicas sobre os motores. Há 150 equipamentos disponíveis para mais essa etapa da campanha. A circulação da embarcação sem a proteção do motor é irregular porque a Lei 9.537, que entrou em vigor no ano passado, torna o uso obrigatório. Se a lei fosse cumprida, os riscos de acidentes com escalpelamento das vítimas devem diminuir. A coordenadora estadual de mobilização social da Sespa, Socorro Silva, afirmou, no entanto, que cinco em cada dez barcos que aportam no Ver-o-Peso descumprem a legislação. No Arquipélago do Marajó, onde o transporte fluvial é mais intenso, a proporção é ainda menor.

O resultado desse descaso é que, em cinco meses, ocorreram seis acidentes com escalpelados, cinco deles na região do Marajó. No ano passado, foram registrados nove escalpelamentos, sendo que somente um não envolveu embarcação e sim máquina de olaria. O escalpelamento ocorre quando, sobretudo, mulheres se abaixam próximo ao motor da embarcação e têm os cabelos enrolados no eixo que fica girando em alta velocidade. As vítimas ficam sem o couro cabeludo. Os acidentes também ocorrem quando, ao invés do cabelo, é a perna da calça que acaba presa ao motor. O comum, no entanto, é a mulher e, ainda, as crianças, terem o cabelo e o couro cabeludo arrancados.
Socorro disse que o acidente deixa marcas físicas e sociais nas vítimas porque, além de sofrerem deformações na cabeça e no rosto, elas deixam de ter uma vida normal. Durante muito tempo, terão que fazer cirurgias corretivas, por exemplo. A própria rotina de temporadas longe de casa para tratamentos e o isolamento das vítimas por vergonha mudam as vidas de toda uma família, frisou a coordenadora, para quem, a decisão de cobrir o eixo do motor poderia evitar esse trauma. “Esses pequenos cuidados livram todos de sofrerem problemas físicos e sociais para o resto da vida. Não há como não dizer que as vítimas sofrem discriminação”, ressaltou.

A coordenadora afirma que o certo seria os municípios assumirem a prevenção ao acidente. Em fevereiro deste ano, os comitês municipais de combate ao escalpelamento de 16 cidades do Marajó foram instruídos a organizar a busca ativa dos barcos que trafegam em desrespeito à lei. O suboficial da Capitania dos Portos, Alencar Sena, revelou que cerca de duas mil embarcações receberam coberturas de eixos metálicos desde 2009. O material é confeccionado com ajuda financeira da Petrobrás, da Eletronorte e dos Bancos do Brasil (BB) e da Amazônia. O número, no entanto, é baixo perto da quantidade de barcos que navegam pelos rios do Pará. A estimativa da Capitania é que existem cerca de 100 mil embarcações em todo o Estado. Arnaldo Lima, de 55 anos, revelou que nem lembra quanto tempo vive da embarcação, mas acredita que somente há pouco mais de um ano adotou a proteção do motor. Até ontem, usava uma caixa de madeira, agora substituída pela metálica.

Fonte: O liberal

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