Em ilha paraense sem nenhum carro,
campanha eleitoral é feita com lancha e bicitáxi.
Matéria
enviada por Ana Paula Rocha
Equipe:
Alexandre Santos, Ana Paula Rocha e
Bárbara Therrie
Do
UOL, em Afuá (PA).
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Uma campanha eleitoral sem carreatas. Nada de
carros com adesivos de candidatos. Ninguém entregando santinhos em semáforos.
Aliás, nada de semáforos nem de qualquer outro tipo de sinalização de trânsito
em Afuá (a 375 km de Belém), na Ilha de Marajó. As peculiaridades geográficas
da cidade exigem criatividade dos candidatos para as eleições municipais.
O UOL visitou a cidade dentro do projeto UOL pelo
Brasil - série de reportagens que percorre municípios em todos os Estados do
Brasil durante a campanha eleitoral.
O UOL visitou a cidade dentro do projeto UOL pelo
Brasil - série de reportagens que percorre municípios em todos os Estados do
Brasil durante a campanha eleitoral.
Em toda área urbana, as ruas de Afuá são elevadas,
na maioria por palafitas, pois o terreno é de várzea, sem solidez suficiente
para que imóveis sejam construídos diretamente nele. Por isso, não há na cidade
nenhum carro, caminhão, ônibus ou moto. Não é à toa que Afuá é chamada de
Veneza Marajoara.
Assim, a vedete da campanha é o bicitáxi: uma
junção de duas bicicletas que permite o transporte de pelo menos quatro pessoas
ao mesmo tempo. Fora do perímetro urbano, nas 24 regionais (que podem incluir
uma ou mais vilas ribeirinhas), está a maioria da população: 73%. Lá residem
57,26% dos eleitores de Afuá. Por isso, os candidatos não abrem mão de
transportes aquáticos para atingir estes públicos. Dos 8.372 quilômetros
quadrados de Afuá, apenas 1,7 fica na área urbana, o que representa 0,02%.
A prefeitura estima que existam na cidade cerca de
16 mil bicicletas e 400 bicitáxis. Nestes meses que antecedem as eleições,
muitas delas ganham adesivos, bandeirinhas e outros materiais de campanha.
Conforme informações passadas por coordenadores das campanhas dos três
candidatos à Prefeitura de Afuá, estão sendo usadas para divulgação deles e de
candidatos a vereadores da mesma coligação pelo menos 125 bicicletas e 24
bicitáxis.
As áreas ribeirinhas também são atendidas: são
onze barcos ou lanchas e 35 voadeiras (barco a motor de maior velocidade).
Muitos destes transportes pertencem a candidatos e pessoas envolvidas nas
campanhas e outros são alugados. O aluguel mensal de um bicitáxi, por exemplo,
custa em média R$ 500.
Já para atingir as comunidades ribeirinhas, são
montados verdadeiros comitês móveis. Narrinha Salomão (PSDB), vereadora mais
votada em Afuá nas duas últimas eleições e candidata à reeleição, conta que os
candidatos e a equipe de trabalho ficam em média dez dias morando em uma
lancha.
“Quando chega a um ponto estratégico, o candidato
sai na sua voadeira e vai fazer a visita de casa em casa nos ribeirinhos”, diz.
Ainda de acordo com ela, por volta das 21h ou 22h, eles voltam para o barco. “A
gente vai tomar banho, jantar e descansar um pouco. Aí no outro dia, às 6h da
manhã, [vai] de novo”, finaliza.
Estes transportes também são usados pelo Tribunal
Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA) para levar as urnas a todos os eleitores,
em uma verdadeira força tarefa. São 92 urnas que serão distribuídas pelo
cartório eleitoral de Afuá em 67 sessões eleitorais do município (26 na área
urbana e 41 no interior). Elas chegaram à cidade depois de uma viagem de 36
horas de barco, saindo de Belém. Para chegar às sessões, a viagem mais longa é
para uma escola da Ilha do Pará, que pode levar de nove a 11 horas.
O chefe do cartório eleitoral, Francisco Fábio
Pires Braga, relata que, como nestas eleições Afuá conta com dez sessões a mais
que nas anteriores, os ribeirinhos terão mais facilidade em chegar aos locais
de votação. Entretanto, ele conta que alguns ainda enfrentam dificuldades, como
alguns eleitores que precisam esperar o rio encher para ir à sessão. Ele estima
que para atingir as comunidades ribeirinhas serão usados quatro barcos e dez
voadeiras. Já na cidade, as urnas são deslocadas com triciclos. “Já solicitamos
bicitáxi ao TRE, mas eles só compram automóveis”, lamenta Braga. Estes veículos
costumam ser alugados para vistoria de propaganda eleitoral em Afuá.
MORADORA ESPERA ÁGUA ENCANADA PARA ESTREAR
TORNEIRA
A casa da aposentada Joana Gonçalves das Chagas,
72, que mora no bairro do Capim Marinho, em Afuá, tem movimento o dia todo.
Isso se deve a um pequeno cano que recebe água na porta de onde ela mora. Os
vizinhos que não têm a mesma “sorte” carregam baldes para encher na casa de
Chagas.
O prefeito de Afuá, Odimar Wanderley Salomão
(PSDB), conhecido como Mazinho Salomão, diz que até dezembro não haverá nenhum
morador da área urbana de Afuá sem água encanada. Ele diz que obras que estão
sendo executadas pela Cosanpa (Companhia de Saneamento do Pará) garantirão água
encanada para a sede, como é chamado o perímetro urbano de Afuá, e que contempla,
inclusive, o bairro de Joana. Por meio de nota a Cosanpa informou que não está
realizando nenhuma obra na cidade. De acordo com a companhia, as obras estariam
sendo feitas pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano. Até o
momento, o UOL não conseguiu confirmar a informação com a secretaria.
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