quarta-feira, 14 de março de 2012

O CARIMBÓ CHAMEGADO DE DONA ONETE


Você já ouviu falar de dona Onete, uma senhora das mais talentosas do Marajó, nascida no município de Cachoeira do Arari. Se você ainda não sabe quem é esta talentosa interprete e letrista, acompanhe aqui um pouco da trajetória artística e de vida desta ‘caboca’, que iniciou sua carreira cantando em bares nas serestas ribeirinhas. Mais uma marajoara dando um verdadeiro exemplo de vida.

Por: Sophia, Felipe Cordeiro e Luê Soares
Quem a vê cantar, nem imagina que sua carreira começou depois dos 60 anos, quando a senhora Ionete da Silveira Gama, ou melhor Dona Onete, foi descoberta pelo Coletivo Rádio Cipó e trocou a rotina de professora aposentada pelos palcos país afora. Agora, quase aos 73 anos, ela prepara seu primeiro disco solo, tem música em trilha de longa metragem e esteve entre as atrações do tradicional festival Rec Beat, que acontece entre os dias 18 e 21 de fevereiro em Olinda (PE). “Às vezes, quando a gente acha que já deu tudo o que tinha que dar, descobre que tem muito mais pela frente”, explica.
Dona Onete canta em seu primeiro CD temas de amor sensual no ritmo que ela batizou de carimbó chamegado. “Feitiço Caboclo” será lançado em abril pelo selo Na Music com produção do compositor, músico e produtor Marco André. O álbum tem patrocínio do projeto Conexão Vivo e do Governo do Pará através da Lei Semear e traz ainda ritmos como bolero, cúmbia e samba com guitarrada. “Gravamos um disco com o jeito dela, com as coisas que ela mais gosta”, explica Marco André, que acabou de mixar o disco no Rio de Janeiro.
Para ele, Dona Onete merece ter seu nome inscrito entre os grandes compositores populares do Brasil. “Ela compõe praticamente uma música por dia e possui uma enorme complexidade musical. Existe a força da música negra e a influência caribenha. Eu quis deixar tudo isso registrado no disco”, explica. Entre as faixas do disco recheado de inéditas, uma novidade matadora: a “Jamburana”. “Tem o jambu, que dá o ardor na boca, e tem a jamburana, que é a planta feminina. Ela esquenta, faz o fogo subir”, diz Onete.
Ainda com o primeiro álbum saindo do forno, Dona Onete já planeja lançar o próximo projeto. Gravado em parceria com o Trio Manari, a intenção é burilar um repertório de ritmos negros. Batuques e rezas dos terreiros de candomblé que fizeram parte da vida dela.
Uma de suas composições, “Amor Brejeiro”, foi escolhida como trilha pelos cineastas Beto Brant e Paulo Ciesca para o filme “Eu Receberia As Piores Notícias de Seus Lindos Lábios”, filmado recentemente em Santarém. Foram mais de 120 discos avaliados, até que Dona Onete arrebatou a cena, literalmente. A cantora fez participação especial, ao lado da protagonista do filme, Camila Pitanga. “Ensinei ela a dançar carimbó”, revela a cantora.

O INÍCIO - A história de Dona Onete com os palcos deu os primeiros passos há muitos anos. Bem antes de colocar no papel as primeiras canções, já se anunciava uma artista. Aos 15 anos, a garota atravessava de Cachoeira do Arari, onde nasceu, em direção ao Marajó, onde cantava em bares nas serestas ribeirinhas. “Recebia cerveja como pagamento, mas eu nem bebia. Cantava mesmo porque me alegrava”, relembra.

Tempos depois, já casada, integrou movimentos da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e foi Secretária de Cultura de Igarapé Miri, época em que também lecionou estudos amazônicos, o que a incentivou a pesquisar a fundo a história do estado e sua cultura mestiça. “Nessa época, eu pesquisei muito sobre cultura negra e indígena. Descobri ritmos, danças, e costumes dos nossos povos”, diz Onete. Começava a empreitada da artista pelos batuques afro e temas caboclos. Sua musicalidade a fez incursionar por alguns palcos de festivais de cultura regional, mas nada que a fizesse assumir uma carreira artística.

A história ganhou novo rumo em um momento inesperado. Já aposentada, Dona Onete se mudou para Belém. Foi morar no bairro da Pedreira, vizinha de diversos núcleos de cultura. “Só na minha rua tem três grupos de carimbó”, diz. O balanço brejeiro de Dona Onete não poderia passar despercebido pela antena de um grupo de rapazes que bem ali, ao lado da cantora, misturava rap, música eletrônica, acordes de carimbó e brega. Já parceiros do velho roqueiro Mestre Laurentino, o Coletivo Rádio Cipó convidou a professora aposentada para integrar o grupo.

“Eu já estava sossegada, e na hora, não quis. Mas meu marido disse: ‘Eles já tem o Laurentino, por que tu não vais também? ’. Ai eu resolvi embarcar”, conta. A então Ionete da Silveira Gama recebeu da banda seu primeiro – e certeiro – nome artístico: Dona Onete. “Os meninos do Coletivo me puseram esse nome e eu gostei”. Ao invés de pendurar as chuteiras, a senhorinha ganhou os holofotes.


Fonte: Conexão Vivo
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