terça-feira, 3 de julho de 2012

ENTREVISTA COM JURACI SIQUEIRA


Nosso entrevistado da vez é
Antonio Juraci Siqueira.

Juraci é marajoara de Cajary, município de Afuá, onde, ainda menino, descobriu a literatura através dos folhetos de cordel. Licenciado pleno em Filosofia pela Universidade Federal do Pará , pertence à várias entidades litero-culturais e atua como professor de filosofia, oficineiro de literatura, performista e contador de histórias. Possui mais de 80 títulos individuais publicados entre folhetos de cordel, livros de poesias, contos, crônicas, literatura infantil, histórias humorísticas e versos picantes, além de poemas musicados por compositores paraenses. Colabora com jornais, revistas e boletins culturais de Belém e de outras localidades além de contar com mais de 200 premiações literárias em vários gêneros, em âmbito nacional.


Marajó na MídiaQual sua atual ocupação além de poeta?

Juraci Siqueira - Sou professor concursado de filosofia, atualmente lotado no Sistema Estadual de Bibliotecas Escolares – Siebe/Seduc para atender escolas e outras instituições enquanto escritor, ministrando oficinas literárias, promovendo bate-papos, saraus, palestras e afins.

Marajó na Mídia - Quanto ao Juraci poeta, quando e como foi que tudo começou?

Juraci - Em Macapá, na década de 70. Dessa época guardei a letra de uma canção com a qual participei do III Festival Amapaense da Canção.

Marajó na Mídia - E o boto? Quando foi que tu descobriste, que eras um “transformado”, conte-nos essa história e o que ela significa?

Juraci - Chapéu de palha de carnaúba, principalmente, sempre usei desde o interior como proteção contra chuva e sol e continuei usando na cidade. Em 1989, organizamos uma programação na Casa da Linguagem, à época presidida pelo saudoso poeta Max Martins, no dia 31 de outubro, dia em que se comemora o dia das bruxas mas, ao contrário das comemorações feitas nas escolas onde aparece a figura da bruxa medieval, resolvemos comemorar homenageando não as bruxas medievais mais os nossos duendes, como a Matinta Perera, O Boto, A Iara, etc. Para a ocasião resolvi encarnar definitivamente a figura do boto, escrevendo o poema Eu, o Boto, diferente do título do filme Ele, o Boto. A partir daí resolvi usar com a figura como marca e tendo, em 1999, reforçado no Fantástico da Rede Globo, no quadro "Me Leva Brasil", ao afirmar ao repórter Maurício Kubrusly que era filho do maroto mamífero.

Marajó na Mídia - Qual as principais dificuldades de ser um escritor paraense e o que está faltando para melhorar esta situação?

Juraci - A principal dificuldade é a edição e distribuição de livros. O que está faltando são incentivos à edição e distribuição das obras, a começar pela aquisição de livros pela Secretaria de Educação. De pouco adianta, embora seja de grande valia para a publicação de livros, os editais de literatura,( Prêmio IAP, Prêmio Dalcídio Jurandir, Prêmios da APL, etc) sem uma política de aquisição e distribuição dessas obras nas escolas públicas, quer estaduais quanto municipais.


Marajó na Mídia - Nas mídias sociais é muito raro alguém postar em seus perfis algum texto, pensamento, poesia de autores ou intelectuais paraenses, isso acontece pela falta de inserção dos nossos autores em nossa grade curricular escolar, ou é pela falta de mídia que divulgue esses autores, ou não temos pensadores que sirvam de espelho e inspiração a essa gente?

Juraci - Principalmente pela ausência de divulgação e crítica literária. No meu caso particular, por fazer minha própria mídia através de visitas sistemáticas às escolas e participação ativa em atividades culturais, posso me considerar um caso à parte. Até mesmo nas redes sociais meu trabalho tem tido uma repercussão satisfatória, com muita gente postando meus poemas e trovas em seus perfis.

Marajó na Mídia - De onde vem tanta inspiração?

Juraci - Na verdade não acredito em inspiração, mas em transpiração (risos). Escrevo diariamente com ou sem inspiração. Não dá para ficar esperando pela boa vontade das musas, tem que ir à luta. Motivo, que não pode ser confundido com inspiração, é o que não falta para se fazer qualquer tipo de trabalho artístico, seja de cunho regional, social, humorístico e etc.

Marajó na Mídia - O que significa ser um marajoara e ter nascido em Cajary?

Juraci - Significa ter uma grande responsabilidade em cantar as belezas e mazelas desse pedaço do Brasil historicamente esquecido; ter nascido no Cajary é ter a certeza de trazer esse rio guardado em meu peito, regando minha alma e minha arte, enquanto permanecer nesse plano terreno.

Marajó na Mídia - Como você vê o atual panorama da poesia paraense contemporânea e quais poetas você destacaria?

Juraci - Vejo que tem crescido a quantidade de autores, mas que esse crescimento é mais quantitativo que qualitativo. Difícil é destacar alguns e esquecer, involuntariamente, outros. Entre os mais antigos destacaria João de Jesus Paes Loureiro, José Ildone, Pedro Galvão, Dulcinéia Paraense e Jurandir Bezerra; entre os da nova geração destacaria Paulo Vieira, Márcio Galvão, Roseli Sousa, Sandro Barbosa, Heliana Barriga e Gisele Ribeiro. (Tomara que os não citados não leiam a entrevista) – risos.



Marajó na Mídia - Como você vê a importância da internet para a divulgação da poesia contemporânea?

Juraci - Como uma poderosa ferramenta de longo e imediato alcance, capaz de encurtar a distância e diminuir a desigualdade entre escritores de todas as unidades federativas.

Marajó na Mídia - Quanto à música, o que você gosta de escutar?

Juraci - Música, de verdade, não importando o gênero, do regional ao clássico. Já daquelas apelidadas de músicas que arranham os ouvidos, eu quero distância.

Marajó na Mídia - Estamos em ano eleitoral, o Marajó ainda navega por águas extremamente turbulentas, os índices de desenvolvimento humano ainda estão entre os piores do mundo, sem mencionar vários outros fatores, que negativizam a qualidade de vida e melhores perspectivas de futuro para o marajoara. Se você pudesse aconselhar os futuros gestores municipais, qual seria a sua sugestão pra melhorar este quadro?

Juraci - Que simplesmente tenham vergonha na cara e respeitem o povo que os elegem, tratando o recurso público como público, mesmo, e não como coisa particular.

Marajó na Mídia - Todas as vezes que te vi “juraciando’ por aí, inclusive quando te visitei em tua casa, você sempre estava com um largo sorriso de ilha no rosto. O que te deixa feliz?

Juraci - O que me deixa feliz é saber que tenho recebido, de Deus e do povo, muito mais do que sequer imaginei, por ter a consciência tranquila de jamais ter cometido qualquer vilania contra quem quer que seja e ter contribuído, com minha modesta obra, para um mundo melhor.


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