quarta-feira, 26 de setembro de 2012

ELEIÇÕES EM AFUÁ (PA) – VEJA COMO É FEITA.

Em ilha paraense sem nenhum carro, campanha eleitoral é feita com lancha e bicitáxi.

Matéria enviada por Ana Paula Rocha
Equipe: Alexandre Santos, Ana Paula Rocha e Bárbara Therrie
Do UOL, em Afuá (PA).
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Uma campanha eleitoral sem carreatas. Nada de carros com adesivos de candidatos. Ninguém entregando santinhos em semáforos. Aliás, nada de semáforos nem de qualquer outro tipo de sinalização de trânsito em Afuá (a 375 km de Belém), na Ilha de Marajó. As peculiaridades geográficas da cidade exigem criatividade dos candidatos para as eleições municipais.

O UOL visitou a cidade dentro do projeto UOL pelo Brasil - série de reportagens que percorre municípios em todos os Estados do Brasil durante a campanha eleitoral.




O UOL visitou a cidade dentro do projeto UOL pelo Brasil - série de reportagens que percorre municípios em todos os Estados do Brasil durante a campanha eleitoral.

Em toda área urbana, as ruas de Afuá são elevadas, na maioria por palafitas, pois o terreno é de várzea, sem solidez suficiente para que imóveis sejam construídos diretamente nele. Por isso, não há na cidade nenhum carro, caminhão, ônibus ou moto. Não é à toa que Afuá é chamada de Veneza Marajoara.

Assim, a vedete da campanha é o bicitáxi: uma junção de duas bicicletas que permite o transporte de pelo menos quatro pessoas ao mesmo tempo. Fora do perímetro urbano, nas 24 regionais (que podem incluir uma ou mais vilas ribeirinhas), está a maioria da população: 73%. Lá residem 57,26% dos eleitores de Afuá. Por isso, os candidatos não abrem mão de transportes aquáticos para atingir estes públicos. Dos 8.372 quilômetros quadrados de Afuá, apenas 1,7 fica na área urbana, o que representa 0,02%.

A prefeitura estima que existam na cidade cerca de 16 mil bicicletas e 400 bicitáxis. Nestes meses que antecedem as eleições, muitas delas ganham adesivos, bandeirinhas e outros materiais de campanha. Conforme informações passadas por coordenadores das campanhas dos três candidatos à Prefeitura de Afuá, estão sendo usadas para divulgação deles e de candidatos a vereadores da mesma coligação pelo menos 125 bicicletas e 24 bicitáxis.

As áreas ribeirinhas também são atendidas: são onze barcos ou lanchas e 35 voadeiras (barco a motor de maior velocidade). Muitos destes transportes pertencem a candidatos e pessoas envolvidas nas campanhas e outros são alugados. O aluguel mensal de um bicitáxi, por exemplo, custa em média R$ 500.

Já para atingir as comunidades ribeirinhas, são montados verdadeiros comitês móveis. Narrinha Salomão (PSDB), vereadora mais votada em Afuá nas duas últimas eleições e candidata à reeleição, conta que os candidatos e a equipe de trabalho ficam em média dez dias morando em uma lancha.

“Quando chega a um ponto estratégico, o candidato sai na sua voadeira e vai fazer a visita de casa em casa nos ribeirinhos”, diz. Ainda de acordo com ela, por volta das 21h ou 22h, eles voltam para o barco. “A gente vai tomar banho, jantar e descansar um pouco. Aí no outro dia, às 6h da manhã, [vai] de novo”, finaliza.

Estes transportes também são usados pelo Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA) para levar as urnas a todos os eleitores, em uma verdadeira força tarefa. São 92 urnas que serão distribuídas pelo cartório eleitoral de Afuá em 67 sessões eleitorais do município (26 na área urbana e 41 no interior). Elas chegaram à cidade depois de uma viagem de 36 horas de barco, saindo de Belém. Para chegar às sessões, a viagem mais longa é para uma escola da Ilha do Pará, que pode levar de nove a 11 horas.

O chefe do cartório eleitoral, Francisco Fábio Pires Braga, relata que, como nestas eleições Afuá conta com dez sessões a mais que nas anteriores, os ribeirinhos terão mais facilidade em chegar aos locais de votação. Entretanto, ele conta que alguns ainda enfrentam dificuldades, como alguns eleitores que precisam esperar o rio encher para ir à sessão. Ele estima que para atingir as comunidades ribeirinhas serão usados quatro barcos e dez voadeiras. Já na cidade, as urnas são deslocadas com triciclos. “Já solicitamos bicitáxi ao TRE, mas eles só compram automóveis”, lamenta Braga. Estes veículos costumam ser alugados para vistoria de propaganda eleitoral em Afuá.
  
MORADORA ESPERA ÁGUA ENCANADA PARA ESTREAR TORNEIRA
A casa da aposentada Joana Gonçalves das Chagas, 72, que mora no bairro do Capim Marinho, em Afuá, tem movimento o dia todo. Isso se deve a um pequeno cano que recebe água na porta de onde ela mora. Os vizinhos que não têm a mesma “sorte” carregam baldes para encher na casa de Chagas.

O prefeito de Afuá, Odimar Wanderley Salomão (PSDB), conhecido como Mazinho Salomão, diz que até dezembro não haverá nenhum morador da área urbana de Afuá sem água encanada. Ele diz que obras que estão sendo executadas pela Cosanpa (Companhia de Saneamento do Pará) garantirão água encanada para a sede, como é chamado o perímetro urbano de Afuá, e que contempla, inclusive, o bairro de Joana. Por meio de nota a Cosanpa informou que não está realizando nenhuma obra na cidade. De acordo com a companhia, as obras estariam sendo feitas pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano. Até o momento, o UOL não conseguiu confirmar a informação com a secretaria.


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