Você
já ouviu falar de dona Onete, uma senhora das mais talentosas do Marajó,
nascida no município de Cachoeira do Arari. Se você ainda não sabe quem é esta talentosa
interprete e letrista, acompanhe aqui um pouco da trajetória artística e de
vida desta ‘caboca’, que iniciou sua carreira cantando em bares nas serestas
ribeirinhas. Mais
uma marajoara dando um verdadeiro exemplo de vida.
Por: Sophia, Felipe Cordeiro
e Luê Soares
Quem a
vê cantar, nem imagina que sua carreira começou depois dos 60 anos, quando a
senhora Ionete da Silveira Gama, ou melhor Dona Onete, foi descoberta pelo
Coletivo Rádio Cipó e trocou a rotina de professora aposentada pelos palcos
país afora. Agora, quase aos 73 anos, ela prepara seu
primeiro disco solo, tem música em trilha de longa metragem e esteve entre as
atrações do tradicional festival Rec Beat, que acontece entre os dias 18 e 21
de fevereiro em Olinda (PE). “Às vezes,
quando a gente acha que já deu tudo o que tinha que dar, descobre que tem muito
mais pela frente”, explica.
Dona Onete canta em seu primeiro CD temas de amor sensual no ritmo
que ela batizou de carimbó chamegado. “Feitiço Caboclo” será lançado em abril
pelo selo Na Music com produção do compositor, músico e produtor Marco André. O
álbum tem patrocínio do projeto Conexão Vivo e do Governo do Pará através da
Lei Semear e traz ainda ritmos como bolero, cúmbia e samba com guitarrada.
“Gravamos um disco com o jeito dela, com as coisas que ela mais gosta”, explica
Marco André, que acabou de mixar o disco no Rio de Janeiro.
Para ele, Dona Onete merece ter seu nome inscrito entre os grandes
compositores populares do Brasil. “Ela
compõe praticamente uma música por dia e possui uma enorme complexidade
musical. Existe a força da música negra e a
influência caribenha. Eu quis deixar tudo isso registrado no disco”, explica.
Entre as faixas do disco recheado de inéditas, uma novidade matadora: a
“Jamburana”. “Tem o jambu, que dá o ardor na boca, e tem a jamburana, que é a
planta feminina. Ela esquenta, faz o fogo subir”, diz Onete.
Ainda com o primeiro álbum saindo do forno, Dona Onete já planeja
lançar o próximo projeto. Gravado em parceria com o Trio Manari, a intenção é
burilar um repertório de ritmos negros. Batuques e rezas dos terreiros de
candomblé que fizeram parte da vida dela.
Uma de suas composições, “Amor Brejeiro”, foi escolhida como
trilha pelos cineastas Beto Brant e Paulo Ciesca para o filme “Eu Receberia As
Piores Notícias de Seus Lindos Lábios”, filmado recentemente em Santarém. Foram
mais de 120 discos avaliados, até que Dona Onete arrebatou a cena, literalmente.
A cantora fez participação especial, ao lado da protagonista do filme, Camila
Pitanga. “Ensinei ela a dançar carimbó”, revela a cantora.
O INÍCIO - A história de Dona Onete com os palcos deu os primeiros
passos há muitos anos. Bem antes de colocar no papel as primeiras canções, já
se anunciava uma artista. Aos 15 anos, a garota atravessava de Cachoeira do
Arari, onde nasceu, em direção ao Marajó, onde cantava em bares nas serestas
ribeirinhas. “Recebia cerveja como pagamento, mas eu
nem bebia. Cantava mesmo porque me alegrava”, relembra.
Tempos depois, já casada, integrou movimentos da Central Única dos
Trabalhadores (CUT) e foi Secretária de Cultura de Igarapé Miri, época em que
também lecionou estudos amazônicos, o que a incentivou a pesquisar a fundo a
história do estado e sua cultura mestiça. “Nessa época, eu pesquisei muito
sobre cultura negra e indígena. Descobri ritmos, danças, e costumes dos nossos
povos”, diz Onete. Começava a empreitada da artista pelos batuques afro e temas
caboclos. Sua musicalidade a fez incursionar por alguns palcos de festivais de
cultura regional, mas nada que a fizesse assumir uma carreira artística.
A história ganhou novo rumo em um momento inesperado. Já
aposentada, Dona Onete se mudou para Belém. Foi morar no bairro da Pedreira,
vizinha de diversos núcleos de cultura. “Só na minha rua tem três grupos de
carimbó”, diz. O balanço brejeiro de Dona Onete não poderia passar despercebido
pela antena de um grupo de rapazes que bem ali, ao lado da cantora, misturava
rap, música eletrônica, acordes de carimbó e brega. Já parceiros do velho
roqueiro Mestre Laurentino, o Coletivo Rádio Cipó convidou a professora
aposentada para integrar o grupo.
“Eu já estava sossegada, e na hora, não quis. Mas meu marido
disse: ‘Eles já tem o Laurentino, por que tu não vais também? ’. Ai eu resolvi
embarcar”, conta. A então Ionete da Silveira Gama recebeu da banda seu primeiro
– e certeiro – nome artístico: Dona Onete. “Os meninos do Coletivo me puseram
esse nome e eu gostei”. Ao invés de pendurar as chuteiras, a senhorinha ganhou
os holofotes.
Fonte: Conexão Vivo
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