De acordo com o professor Walace Gomes Leal, do
Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal do Pará (UFPA),
a Medicina Popular defende que um dos benefícios do óleo da copaíba é o efeito
anti-inflamatório para doenças da pele e de outros tecidos. A partir disso,
surgiu o questionamento: será que o composto natural poderia ter algum efeito
no sistema nervoso central?
O questionamento motivou o biólogo Adriano
Guimarães Santos a produzir a Dissertação Efeitos anti-inflamatórios e
neuroprotetores do óleo-resina de Copaifera reticulata Ducke após lesão
excitotóxica do córtex motor de ratos adultos, orientada pelo professor Walace
Leal. A pesquisa, defendida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em
Neurociências e Biologia Celular do ICB, foi realizada no Laboratório de
Neuroproteção e Neurorregeneração Experimental e financiada pela Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa).
"Nenhum outro laboratório havia investigado
se o tratamento com o óleo de copaíba tinha algum efeito anti-inflamatório em
um modelo experimental de uma doença do sistema nervoso central. Então,
consideramos pertinente realizar esse estudo na UFPA", esclarece o
professor.
Neste modelo experimental, fora injetada uma
neurotoxina (substância tóxica que pode lesar o sistema nervoso) no cérebro de
ratos. Esse procedimento causa uma lesão semelhante à provocada pelo Acidente
Vascular Cerebral (AVC), "nós anestesiamos esses animais e introduzimos a
neurotoxina. Então, induziu-se a uma lesão neural aguda e à perda tecidual
devido à substância. Essa ação gerou, ainda, um déficit motor, o que simula uma
doença humana como o AVC", explica o professor.
Resultado
será referência para tratamento em humanos
Como parte da metodologia, foram utilizados mais
dois grupos de ratos, tratados de forma diferente. Um grupo recebeu uma solução
salina estéril (soro fisiológico), contendo sódio e água. Esse composto, de
acordo com Walace Leal, era um placebo, substância administrada como controle
do experimento e com efeito inócuo.
"Já o outro grupo foi tratado com óleo de
copaíba, diluído em uma concentração que era considerada adequada",
destaca o docente. Após os experimentos, os pesquisadores constataram que,
"no grupo de animais tratados com copaíba, houve uma diminuição da inflamação
no sistema nervoso central e uma melhor proteção desse sistema contra lesão, ou
seja, neuroproteção. Esses foram os dois principais resultados
encontrados", revela Walace Leal.
A pesquisa contou com a colaboração de dois
engenheiros químicos da UFPA, Raul Carvalho e Lucinewton Silva de Moura, os
quais realizaram um estudo da composição química do composto natural. Osmar
Lameira, agrônomo e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), também contribuiu fornecendo o óleo da copaíba. Segundo Walace Leal,
utilizar material de uma árvore conhecida é condição imprescindível para esse
tipo de pesquisa.
Segundo o orientador da Dissertação, a simulação
feita com ratos e os resultados encontrados com os experimentos podem,
posteriormente, servir como referência para o tratamento de doenças do sistema
nervoso em humanos. "Evolutivamente, os mecanismos que causam lesão em
ratos são muito parecidos com os de humanos. E para se apreender o que pode
acontecer em doenças de humanos, é necessário, primeiramente, fazer
experimentos em animais. Um rato com AVC, por exemplo, bem como um humano que
sofre com essa doença apresentam problema motor, lesão e inflamação no cérebro.
Nota-se, portanto, que as consequências lesivas são as mesmas", considera.
Próximo passo é isolar componentes ativos do óleo
Contudo, para aplicar o estudo em seres humanos, é
indispensável a realização de mais pesquisas sobre a aplicabilidade do extrato
da copaíba. Depois dos experimentos em ratos, a investigação seria feita em
primatas. Antes de se chegar aos humanos, é necessário descobrir quais os
princípios ativos responsáveis pelos efeitos anti-inflamatório e neuroprotetor
do óleo de copaíba.
Segundo Walace Leal, atualmente, nenhum
anti-inflamatório é usado para diminuir a lesão de uma doença do sistema
nervoso. Então, se o estudo com a copaíba realmente funcionar em humanos, uma
substância derivada do óleo dessa árvore pode ser utilizada para minimizar a
inflamação.
"Assim, talvez tenhamos descoberto um
composto natural, da Amazônia, que tenha um efeito anti-inflamatório para
doenças do sistema nervoso central. Isso seria uma grande conquista para a
sociedade. Até o momento, quando uma pessoa que sofreu um AVC chega ao
hospital, pouco se pode fazer. Então, esses pacientes poderiam receber um
derivado da copaíba que atenuasse a inflamação e protegesse o cérebro. Seria um
remédio anti-inflamatório com efeito neuroprotetor", defende o professor.
O próximo passo da pesquisa será, justamente, a
busca pelo isolamento do princípio (ou princípios) ativo(-s) do óleo da
copaíba. Com essa possível delimitação, o tratamento será feito com os
componentes ativos já isolados. O procedimento vai se dar, primeiramente, com
ratos e, depois, com primatas. Com a descoberta desses princípios ativos,
"seria possível apontar, precisamente, quais substâncias do óleo de
copaíba promovem o efeito anti-inflamatório e a neuroproteção, as quais,
futuramente, poderão ser utilizadas como medicamento para o tratamento de seres
humanos", finaliza Walace Leal.
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