Nosso entrevistado da vez é
Antonio Juraci Siqueira.
Juraci é marajoara de
Cajary, município de Afuá, onde, ainda menino, descobriu a literatura através
dos folhetos de cordel. Licenciado pleno em Filosofia pela Universidade Federal
do Pará , pertence à várias entidades litero-culturais e atua como professor de
filosofia, oficineiro de literatura, performista e contador de histórias. Possui
mais de 80 títulos individuais publicados entre folhetos de cordel, livros de
poesias, contos, crônicas, literatura infantil, histórias humorísticas e versos
picantes, além de poemas musicados por compositores paraenses. Colabora com
jornais, revistas e boletins culturais de Belém e de outras localidades além de
contar com mais de 200 premiações literárias em vários gêneros, em âmbito
nacional.
Marajó na Mídia
– Qual sua atual ocupação além de poeta?
Juraci Siqueira
- Sou professor concursado de filosofia, atualmente
lotado no Sistema Estadual de Bibliotecas Escolares – Siebe/Seduc para atender
escolas e outras instituições enquanto escritor, ministrando oficinas
literárias, promovendo bate-papos, saraus, palestras e afins.
Marajó na Mídia
- Quanto ao Juraci poeta, quando e como foi que
tudo começou?
Juraci
- Em Macapá, na década de 70. Dessa época guardei a
letra de uma canção com a qual participei do III Festival Amapaense da Canção.
Marajó na Mídia
- E o boto? Quando foi que tu descobriste, que eras
um “transformado”, conte-nos essa história e o que ela significa?
Juraci
- Chapéu de palha de carnaúba, principalmente, sempre
usei desde o interior como proteção contra chuva e sol e continuei usando na
cidade. Em 1989, organizamos uma programação na Casa da Linguagem, à época
presidida pelo saudoso poeta Max Martins, no dia 31 de outubro, dia em que se
comemora o dia das bruxas mas, ao contrário das comemorações feitas nas escolas
onde aparece a figura da bruxa medieval, resolvemos comemorar homenageando não
as bruxas medievais mais os nossos duendes, como a Matinta Perera, O Boto, A
Iara, etc. Para a ocasião resolvi encarnar definitivamente a figura do boto,
escrevendo o poema Eu, o Boto, diferente do título do filme Ele, o Boto. A
partir daí resolvi usar com a figura como marca e tendo, em 1999, reforçado no
Fantástico da Rede Globo, no quadro "Me Leva Brasil", ao afirmar ao
repórter Maurício Kubrusly que era filho do maroto mamífero.
Marajó na Mídia
- Qual as principais dificuldades de ser um
escritor paraense e o que está faltando para melhorar esta situação?
Juraci - A principal
dificuldade é a edição e distribuição de livros. O que está faltando são
incentivos à edição e distribuição das obras, a começar pela aquisição de
livros pela Secretaria de Educação. De pouco adianta, embora seja de grande
valia para a publicação de livros, os editais de literatura,( Prêmio IAP,
Prêmio Dalcídio Jurandir, Prêmios da APL, etc) sem uma política de aquisição e
distribuição dessas obras nas escolas públicas, quer estaduais quanto
municipais.
Marajó na Mídia - Nas mídias sociais é muito raro alguém postar em seus perfis algum texto, pensamento, poesia de autores ou intelectuais paraenses, isso acontece pela falta de inserção dos nossos autores em nossa grade curricular escolar, ou é pela falta de mídia que divulgue esses autores, ou não temos pensadores que sirvam de espelho e inspiração a essa gente?
Juraci - Principalmente pela ausência de divulgação e
crítica literária. No meu caso particular, por fazer minha própria mídia
através de visitas sistemáticas às escolas e participação ativa em atividades
culturais, posso me considerar um caso à parte. Até mesmo nas redes sociais meu
trabalho tem tido uma repercussão satisfatória, com muita gente postando meus
poemas e trovas em seus perfis.
Marajó na Mídia
- De onde vem tanta inspiração?
Juraci - Na verdade não acredito em inspiração, mas em
transpiração (risos). Escrevo diariamente com ou sem inspiração. Não dá para
ficar esperando pela boa vontade das musas, tem que ir à luta. Motivo, que não
pode ser confundido com inspiração, é o que não falta para se fazer qualquer
tipo de trabalho artístico, seja de cunho regional, social, humorístico e etc.
Marajó na Mídia
- O que significa ser um marajoara e ter nascido em
Cajary?
Juraci - Significa ter uma grande responsabilidade em
cantar as belezas e mazelas desse pedaço do Brasil historicamente esquecido; ter nascido no
Cajary é ter a certeza de trazer esse rio guardado em meu peito, regando minha
alma e minha arte, enquanto permanecer nesse plano terreno.
Marajó na Mídia
- Como você vê o atual panorama da poesia paraense
contemporânea e quais poetas você destacaria?
Juraci - Vejo que tem crescido a quantidade de autores, mas
que esse crescimento é mais quantitativo que qualitativo. Difícil é destacar
alguns e esquecer, involuntariamente, outros. Entre os mais antigos destacaria
João de Jesus Paes Loureiro, José Ildone, Pedro Galvão, Dulcinéia Paraense e
Jurandir Bezerra; entre os da nova geração destacaria Paulo Vieira, Márcio
Galvão, Roseli Sousa, Sandro Barbosa, Heliana Barriga e Gisele Ribeiro. (Tomara
que os não citados não leiam a entrevista) – risos.
Marajó na Mídia
- Como você vê a importância da internet para a
divulgação da poesia contemporânea?
Juraci -
Como uma poderosa ferramenta de longo e imediato
alcance, capaz de encurtar a distância e diminuir a desigualdade entre
escritores de todas as unidades federativas.
Marajó na Mídia
- Quanto à música, o que você gosta de escutar?
Juraci - Música, de verdade, não importando o gênero, do
regional ao clássico. Já daquelas apelidadas de músicas que arranham os
ouvidos, eu quero distância.
Marajó na Mídia
- Estamos em ano eleitoral, o Marajó ainda navega
por águas extremamente turbulentas, os índices de desenvolvimento humano ainda
estão entre os piores do mundo, sem mencionar vários outros fatores, que
negativizam a qualidade de vida e melhores perspectivas de futuro para o
marajoara. Se você pudesse aconselhar os futuros gestores municipais, qual
seria a sua sugestão pra melhorar este quadro?
Juraci - Que simplesmente tenham vergonha na cara e
respeitem o povo que os elegem, tratando o recurso público como público, mesmo,
e não como coisa particular.
Marajó na Mídia
- Todas as vezes que te vi “juraciando’ por aí,
inclusive quando te visitei em tua casa, você sempre estava com um largo
sorriso de ilha no rosto. O que te deixa feliz?
Juraci - O que me deixa feliz é saber que tenho recebido,
de Deus e do povo, muito mais do que sequer imaginei, por ter a consciência tranquila
de jamais ter cometido qualquer vilania contra quem quer que seja e ter
contribuído, com minha modesta obra, para um mundo melhor.
Brilhante, amigo Jurací.
ResponderExcluirDisse tudo.
Um abraço.