sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

FOGÃO DE GUARANIS-KAIOWÁS É PREMIADO PELA ONU

Fumaça de cozinha é a oitava causa
de mortes de mulheres no mundo.

Em meados de 2012, a etnia Guarani-Kaiowá foi alçada ao foco da opinião pública ao protagonizar um dos principais conflitos de terra no país. A briga está longe de ser resolvida, mas, nesse caminho, os índios conseguiram chamar atenção para as mazelas que vivem no dia a dia. Seis meses depois, são notícia novamente, agora por um bom motivo.
Um projeto iniciado ano passado, levando fogões ecológicos às aldeias no Cerrado do Mato Grosso do Sul, ganhou o primeiro lugar num concurso do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

A história dos fogões foi escolhida entre 120 enviadas por 66 escritórios da agência no mundo inteiro. A tecnologia tem como objetivo aumentar a eficiência energética, reduzindo a pressão sobre o meio ambiente, e garantir mais saúde aos moradores, diminuindo a exposição dos índios à fumaça.

Na prática, significou para as primeiras dez famílias beneficiadas o fim do hábito de improvisar um fogão à lenha no chão de casa para cozinhar. Sem proteção, esse modelo tradicional precisa de muita madeira para deixar a comida no ponto e alastra a fumaça pela casa, prejudicando a saúde dos moradores, especialmente de mulheres e crianças, que passam mais tempo no ambiente. Feito de tijolo e finalizado com materiais abundantes na região, como o barro, o fogão ecológico tem uma chaminé acoplada e usa ao máximo o calor produzido pela queima da madeira. Segundo a coordenadora das ações do Pnud dentro do projeto, Renata Oliveira Costa, a tecnologia social está sendo ensinada aos próprios indígenas, que poderão mantê-la.

A fumaça de cozinha é a oitava causa de morte de mulheres no mundo. É um problema silencioso, mas muito perigoso — disse Renata, por telefone, de uma das aldeias, na localidade de Panambizinho, no município de Dourados (MS). A mudança parece pequena frente à turbulência em que vivem os Guaranis-Kaiowás. E é. Mas representa consequências importantes no dia a dia deles. Em primeiro lugar, reduz o uso de madeiras de florestas nativas. As áreas delimitadas há cerca de seis anos para os índios abrigaram monoculturas e são desmatadas, o que os obriga a buscar lenha em outros locais. Com isso, mulheres da aldeia andam de oito a dez quilômetros, de três em três dias, e carregavam a madeira nas costas, causando comprometimentos à saúde.

O fogão ecológico faz parte do programa “Programa Conjunto de Segurança Alimentar e Nutricional de Mulheres e Crianças Indígenas”, financiado pelo Fundo Espanhol para os Objetivos do Milênio e apoiado por cinco agências da ONU, entre elas o Pnud. O projeto recebe ainda apoio do governo brasileiro, por meio do Ministério do Desenvolvimento Social, e da Fundação Nacional do Índio (Funai). Até junho, a promessa é instalar fogões em toda a aldeia, beneficiando cerca de 80 famílias. Além de Dourados, o município de Tabatinga também receberá o projeto, que, além dos fornos, tem outras iniciativas, como reflorestamento de áreas degradadas.

Fonte: O Globo


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